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terça-feira, 1 de julho de 2014

A Copa sem preconceitos, mas com alguma coisa que é muito parecida

Coisas que não são físicas, geralmente, são assim: Não se vê, mas estão lá mesmo assim. Conceitos como beleza, certo/errado e outras subjetividades sempre apresentam o mesmo contexto: Vai se fazendo até que alguém aponta como errado, aí, o discurso ganha 'embasamento' em coisas ridículas.

Quer exemplos? Não faltam. Marcelo, lateral-esquerdo brasileiro do Real Madrid e da Seleção, passou incontestável desde sua convocação até marcar um gol contra. O primeiro do Brasil na Copa em terras brasileiras deste ano. Aí, ele passou a ser 'negro, aquele que faz m...' e aquele do 'cabelo ruim'. Engraçado como não percebem isso enquanto a maioria dos jogadores - negra - embala seus churrascos e coquetéis em frente a telões durante os jogos, né? Agem como se jogadores de futebol fossem seu zoológico particular e interativo. "Olha, jogador, eu te acho legal, mas quero que você me faça feliz com seu futebol". Tudo errado. São pessoas ali, num trabalho próprio e não cavalos carregando sua carroça, senhor de engenho.

Diz aê, saganauta (hein?!) isso é 'velado'? É mentiroso descarado, como ser pego sem calças.


Aliás, por falar em cabelo, nesta seleção temos Dante, William, Marcelo e David Luiz com seus blacks bem assumidos. Mas só o de pele clara David Luiz é que estampa comerciais e campanhas, reparou? Lembrando do destaque prioritário que Camila Pitanga e Taís Araújo têm na TV, isso me faz pensar em como você pode ser negro, mas não vão te olhar direito se você for negro e de cabelo crespo natural. Ah, não, juntar tanta negritude? Errado, somos todos humanos, não é? O preconceito é raso, mas complexo, paradoxalmente.



Aí, chegamos à Copa 2014. Dois ou três negros nas arquibancadas e cadeiras. Há mais negros em seleções europeias como Holanda, França e Inglaterra do que no estádio, arrisco a dizer, hiperbolicamente. Os musos e musas da Copa, as listas de jogadores gatos, tudo, TUDO, envolve beleza de pessoas brancas. E os negros? Não são bonitos, na visão de muita gente. Dizem que não é racismo, é gosto pessoal. Na boa, o gosto pessoal precisa de referências externas pra ser construído e nossa sociedade é completamente dependente da grande mídia. Não falo mais nada.

Outra do preconceito que se assume em atitudes, mas se nega em explicações tortas e dispersivas, é a ideia de que não se é preconceituoso... até abrir a boca. Exemplos não faltam, como as pessoas que adoram começar frases com 'não sou preconceituosx, mas...' e sua variante comum 'depois dizem que eu sou preconceituosx, mas...'. Caras, nunca NUNCA vem coisa boa depois dessas frases. Ou melhor, vem coisa boa pra se confirmar justamente o contrário, afinal, se você não é, porque precisa ficar afirmando?



Mario Balotelli era uma estrela da seleção italiana, até serem desclassificados. Agora é só ele, culpado por não ter salvo a pátria, acusado de não ser um italiano de verdade. Diego Costa, brasileiro naturalizado espanhol, também ouviu um monte. Houve idiota por lá pra dizer até que a desclassificação melancólica da Espanha foi resultado de terem levado um 'macaco' para a Copa. Benzema, da França, não canta o hino de seu país, pois, filho de imigrantes argelinos, não compactua com a letra xenofóbica. Até de colegas jogadores, eles correm riscos de ofensas, como o caso de Suárez, do Uruguai, acusado pela liga inglesa por proferir ofensas contra um colega negro.

O preconceito não é velado no país, ele é bem aberto, só que as pessoas é que fazem vista grossa. Racismo não é questão de ponto de vista e não adianta fingir que não aconteceu pra 'evitar a fadiga'. Há que se combater sim, principalmente com orientação, conhecimento e contra-argumentação. Já falei aqui mesmo no blog sobre Liliam Thuram, ex-jogador da mesma França que aplaude seus jogadores 'impuros' quando convém, e o valor de iniciativas como a dele, que prega o combate ao racismo por meio da educação da criança e do jovem.

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