Por muito tempo, o povo se acostumou – infelizmente – a levar
trolha e apenas reclamar entre si, como quem reclama com o cara de trás da fila
que um espertinho passou à frente de todos no famoso golpe do “encontrei meu
amigo ali na frente”. Claro que isso é fruto de séculos de pouca auto-estima,
as bases de nossa sociedade, criada a partir de invasão e apropriação indébita
de corsários europeus que acharam por bem tornar estas terras em seu quintal
particular pra brincar de roubar o que tinha aqui e mandar pra cá a nata da
bandidagem, dos loucos, pervertidos e complementando tudo com tráfico
escravista. De lá pra cá, foi golpe atrás de golpe até a ditadura que pegou
meados de 1960 até começos de 1980, na verdade melhor compreendido entre
1964-1984, matando muita gente, torturando tantos outros e traumatizando
gerações.
A partir daí, acho, tornou-se um hábito latente falar mal do
governo porque todo mundo sabia que o Brasil era roubado e vendido com a força
e velocidade de uma onda havaiana sobre a cabeça de um surfista desavisado
levando caldo. Daí, tivemos o “retorno da democracia” (muitas, mas muitas aspas
nessa expressão) e a ilusão de liberdade consolidada quando a população achou
que expulsou um presidente da república (tá, e Isabel é que resolveu a
escravidão e o racismo no Brasil), enfim, o que vimos foi um franco resquício
das políticas neo-liberais da ditadura, só que com o aval do povo que se deixou
levar por uma mudança na moeda, o Real, que não era instável como as trocentas
moedas que tivemos em poucos anos. Mas o foco aqui é na mania de falar mal do
governo. Tínhamos o que falar? Sim. Ainda temos? Sim. Mas há um diferencial
hoje.
Hoje em dia, o governo tem problemas e erros de percurso?
Sim. Mas está muito longe da miséria que era o PSDB no comando. O pobre era
realmente pobre, hoje muito pobre faz piada que não tem dinheiro, mas tem seu
celular legal, seu PC pra entrar na internet, seu salário mínimo não é mais 200
reais, está beirando 800, o que ainda é muito pouco para o custo de vida, mas
como eu disse, muitos problemas, não se resolve assim, num estalar de dedos.
Mas uma coisa não mudou e precisa. A onda de falar mal do governo. Pegou-se
esse vício e os desavisados simplesmente pegam montagens feitas por gente
tendenciosa e repassa como instrumento de manobra. Usam sempre as mesmas
palavras vagas como ‘corrupção’, ‘roubalheira’ e se garantem, não em
informações embasadas de pesquisas políticas e econômicas, mas em capas de
revistas e chamadas de jornais. Novamente falo, se quer entender de política
não tem nada que assistir a JNs da vida nem ler Veja e essas trolhas, pois,
seria o mesmo que achar que dá pra tirar diploma de paleontólogo só assistindo
a Jurassik Park. Talvez você vire um dinossauro, mas é outra história.
O problema é que esse tipo de vício sem contestação gera
duas ervas daninhas para o debate político: O Viciado que não conseguiu
perceber seu mundo mudar à sua volta e as gerações mais novas que aprendem esse
lixo por osmose. O primeiro tipo é mais natural que haja, conservadorismo,
falta de adaptação, inércia... Não é o ideal, mas é normal de entender que
mentalidades não mudem de uma hora pra outra, então, fica um monte de gente
falando em volta da ditadura, que hoje não presta... humpf... queria ver
falarem mal do governo pro mundo todo ver e não sumirem do mapa um minuto
depois pra reclamar de novo no tempo da ditadura, mas, enfim... Mas é o povo
que eu falei, acostumou a ter a auto-estima enquanto país muito baixa, então
faz essas piadas falando mal do governo como quem zoa o cabelo da mãe, critica
a roupa do irmão e a barba do pai. Pessoas que levam ferrenhamente a sério a
coisa de desdenhar pra parecer intimidade, mas acaba sendo um desabafo sem
objetivo.
A outra parte, essa eu não tenho muita consideração, pois é
retardo, mas também entendo a existência. Só não entendo a falta de contestação
e já explico. Falo de quem não era nascido ou era muito pequeno quando o PT
assumiu o governo. Gente que já nasceu beneficiado por diversas políticas
sociais, mas como se vêem blindados por papais e mamães com uma vida melhor,
acabam reclamando de barriga cheia sem saber. Eu sou um filho da ditadura,
enfraquecida já na época que nasci, mas vi isso tudo mudando até FHC meter sua
política de venda tudo pelo menor preço e eu ver uma mãe que mudou radicalmente
de função numa empresa recém privatizada pra não rodar e um pai que amargou
desemprego tendo mudado também radicalmente de profissão pra não morrer de
fome. Almoçava-se sem saber o preço que a janta ia estar. Daí, eu vejo um monte
de garotinho(a) de 18, 20 anos falando em volta de ditadura, que nunca se
roubou tanto ezzzZZZZZZZ...
É o tipo que acha Danilo Gentili um ícone do combate à
corrupção e da revolução no humor. Esse babaca não é humorista, é um amargurado
ressentido. Pois é da mesma idade que eu, mas virou puxa saco de emissoras que
cresceram com a ditadura apoiando e agora acabam sofrendo com políticas sociais
que não mantêm o povo sob seu controle. Voltando aos filhos reacinhas jr., eles
se valem de uma lógica de que se hoje não é perfeito, o ontem foi melhor. É a
clássica rebeldia, contestação do sistema, mas se antigamente contestar o
sistema era a luta por liberdade, hoje, esses rebeldes sem causa – pra minha
decepção – não contestam – aceitam o conservadorismo ao mesmo tempo que querem
se rebelar. Geração confusa e infeliz. Felizmente não é todo mundo, mas uma
classe média boba, com mania de querer parecer participativa e interessada, mas
lê Veja, que notoriamente mente, e se acha bem informada. Como diria Roger –
ultraje – Moreira (quinteto do Jô do gentili), “como é que eu vou crescer sem
ter com que me revoltar?”. É isso, uma babaquice incontida. Poderia usar isso
pra contestar outras coisas, mas cai no clichê de acreditar em especulação
midiática, não se informam sobre processos simples da sociedade, mas querem
falar, querem fazer barulho e seus ícones são esses aí, os palhaços do sistema,
gentilis, sheherazades e tals... Na sede por presepada, esses sem noção é que
lhes parecem “falar aquilo que ninguém mais tem coragem”.
Falar o que ninguém tem coragem é pra Raul Seixas que já
zoava com a burocracia (Plunt Plact zum) e com o neoliberalismo e subserviência
ao exterior na venda de patrimônio nacional (Aluga-se). Quando você vê apenas o
mesmo grupo ligado à classe rica resmungando feito criança contrariada, isso
não é coragem, é desespero. E, fale a verdade, quando acontece em algum lugar
de uma minoria fazer palhaçada, você é mesmo do tipo que se junta ou fica
olhando de longe pensando ‘olha o vexame!’? Pois é, não são corajosos, estão
apenas separando gente com juízo e inteligência os burros... e levando os
burros consigo. O que eu já desfiz de amizade por causa de bolsonecas e
gentalhas... não tenho receio algum. Ao ando com maluco, nem com quem bate
palma pra maluco.
Ah, fugindo um pouco do assunto aqui, dizem que Lula e o PT
começaram com a guerra entre classes... Não, gafanhoto, Lula e o PT começaram
com a revolta da classe rica que se viu disputando espaço com muito pobre em
várias frentes. Olhe na educação superior federal, no quadro social financeiro
e veja o quanto o Brasil evoluiu pra saber. Muitos acham que os ‘bolsas’ são
assistencialismo, porque era assim que o PSDB tratava, quando o benefício valia
tipo, 30 reais. Acham que uma pessoa só pode comprar comida e roupa com um
bolsa da vida, porque? Porque agregaram o vício da elite em achar que pobre não
pode ter dinheiro, que pobre com dinheiro não dá certo. Mas isso é conveniente,
por se a grana fosse distribuída de forma igualitária, não haveria modo de alguém
se sentir superior. Como fariam? Por etnia? Mas a etnia não comprova nada se a
grana não estiver concentrada com um grupo e o outro se esbofeteando pra pegar
migalhas.
Enfim, revoltadinhos online repassam burrices dos
revoltadões online, não pensam, não são a favor nem contra nada, apenas usam
jargões da moda. Se o governo fosse ocupado por borboletas, defenderiam morte
às borboletas e nem se importariam com a polinização das flores na primavera. Digo
e repito aqui e no facebook: ESSA GENTE NÃO FAZ SENTIDO!
Por exemplo, Gentili faz piada com nordestino, povo da mesma região de onde vem Sheheranazi, que é defendida por ele como 'liberdade de expressão'. Todos deveríamos saber que liberdade de expressão não é falar o que quer, é responder por aquilo que se fala, mas, novamente, ESSA GENTE NÃO FAZ SENTIDO!
Em tempo, outro ato de coragem do valente voz da revolução coxinha:
Tomou?
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